segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Cat sitter"

A primeira vez que eu ouvi essa expressão foi quando eu morava em Boston. Um belo dia apareceu uma gatinha super fofa lá em casa sem mais nem menos. Após verificar que todas as janelas estavam fechadas, acabamos descobrindo que ela morava no andar de cima da casa e tinha caído pelo forro do teto do banheiro. Parece coisa de filme, né? Quando devolvemos a gata, o dono – que ainda não tinha notado a falta dela – viu como eu tinha gostado da companhia e disse que eu poderia ser cat sitter dela quando precisasse. Acabou ficando por isso mesmo e desde que eu adotei a Marie tenho sentido falta de uma cat sitter.
Quem tem gato sabe que é complicado levar em viagens. Cachorro normalmente viaja bem para lugares próximos, mas os gatos sofrem muito, fora o medo de fugirem. E por mais que digam que eles são super independentes eu não consigo deixar a Marie sozinha. A minha gatinha é carente demais. Desde que adotamos a Maroca – há um ano e cinco meses, eu e o meu namorado viajamos juntos 3 vezes. Na primeira vez, passamos uma semana fora e meus pais se mudaram pra cá. Meu pai, aquele que não me deixava ter gato, veio aqui pra casa cuidar da Marie. Isso é que é prova de amor. Nas outras vezes, ficamos fora só por um final de semana e convenci amigos e a minha irmã a passarem aqui para colocar comida para ela. O fato é que a gente acaba incomodando muita gente quando resolve viajar. Mas como resolver esse problema?
Uma opção são os hotéis para animais. Eu conheço pessoas que já deixaram seus cachorros nesses hotéis, mas não conheço ninguém que tenha deixado o gato. Os gatos são muito territorialistas e ficam acuados quando mudam de casa. Eu pessoalmente teria muito medo de deixar a Marie em algum desses gatis, por melhor que fosse a aparência do lugar.
A outra opção é contratar uma cat sitter. Eu nem sabia que o serviço era oferecido aqui no Rio, até que vi hoje uma reportagem na Ana Maria Braga – pois é, meu namorado assiste “Bom dia Brasil” e a TV continua ligada depois que o jornal acaba – falando justamente disso. A reportagem era com a cat sitter Rafaela Velmovitsky, fundadora do cat sitter dos sonhos (http://www.catsittersonhos.com/). Achei a idéia ótima!  No site ela diz que troca a ração e a água, limpa a caixa de areia, dá carinho e até remédio. Como ponto positivo, ela diz que manda fotos e filmes diariamente para os donos (!). O ponto negativo é que pelo que eu entendi, ela passa só umas duas horas por dia com os gatinhos. Acho que a Maroca ia continuar carente... Dei uma olhada rápida na internet e poucas pessoas parecem oferecer esse serviço aqui no Rio. Fica aí uma dica para quem quiser investir nisso. Eu já fui cat sitter várias vezes para a Panqueca, gata da minha irmã, e posso dizer que é um trabalho ótimo para quem gosta de gatos.
Conhece alguma cat sitter ou algum hotel para gatos com bom atendimento? Deixe aqui um comentário.
Na foto, Marie escondida na mochila tentando viajar com a gente.



terça-feira, 5 de abril de 2011

Desafiando a gravidade

      Pesquisando um pouco sobre gatos, encontrei um artigo publicado em Novembro de 2010 na revista Science (artigo de capa!) que tratava de um assunto bastante curioso: de como os gatos precisam vencer a gravidade para beber água.
O ato de beber água é, na verdade, um desafio para todos os animais terrestres, já que eles precisam puxar a água contra a gravidade. Animais como cavalos e ovelhas usam a sucção para isso, mas os gatos e cachorros têm estratégias diferentes. Quem já observou um cachorro bebendo água, pôde notar que eles usam a língua como uma concha para trazer a água até a boca. Quem já observou com bastante atenção um gato bebendo água, pôde notar que a estratégia é outra.
Ao contrário do que acontece com os cachorros, a língua dos gatos não mergulha no líquido. A ponta da língua – que não tem aquela aspereza característica do restante – é a única parte que entra em contato com a água. A língua do gato toca o líquido curvada para trás e quando o gato levanta a língua, o líquido que estava aderido a ela é “puxado para cima” formando uma coluna de água. É importante destacar que a parte ventral da língua, ou seja, a parte da frente,  não toca o líquido. Apenas a ponta da parte de trás é que toca a água e cria a coluna. Incrível, né?
Estimativas das forças relacionadas ao processo sugerem que a dinâmica de fluido envolvida no ato de beber água dos gatos é governada pela inércia e pela gravidade. A inércia contribui para que o líquido suba através da coluna enquanto a gravidade atua de maneira a colapsar a coluna. Complicado, né? Mas como uma imagem vale mais do que mil palavras, eu recomendo uma espiadinha em algum dos vários vídeos disponíveis na internet com imagens em câmera lenta de gatos bebendo água ou leite. É realmente incrível como eles conseguem vencer a gravidade para beber.
No caso da Marie, a preguiça às vezes é grande e ao invés de vencer a gravidade para beber no potinho, ela prefere pegar a água direto da torneira. Muito mais prático, né? Esperta essa minha gatinha.
Gostou do estudo? Para mais detalhes, recomendo o artigo completo: “How Cats Lap: Water Uptake by Felis catus”, de Reis e colaboradores (Science vol 330, 2010) ou o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=Fgf9y8mo414&feature=related.

Na foto, a capa da Science e a Marie, espertinha, bebendo água direto da torneira.

domingo, 3 de abril de 2011

Gato também tem alergia?

Todo mundo provavelmente já ouviu falar de alguém que tem alergia a gato, certo? Agora acho que nem todo mundo sabe que gatos também têm alergia.  Eu mesma nunca tinha pensado no assunto até a Marie começar a se coçar. Pois é, logo depois do episódio da rede de limão e coincidindo com uma viagem minha, a Marie começou a se coçar com muita força principalmente no pescoço, no queixo e nas orelhas. E como eu nunca consigo cortas as unhas da danada, ela se machucava muito cada vez que se coçava.
Na primeira visita ao veterinário – quando eu ainda estava viajando – foi passado um anti-alérgico.  A princípio o anti-alérgico pareceu funcionar, apesar de deixar a gatinha extremamente sonolenta, mas era claro que não podíamos manter a Marie a base de Polaramine para o resto da vida. Comecei então a pesquisar sobre o assunto. Pelo que vi, existem 4 tipos principais de alergia em gatos: alergia de contato, alimentar, inalatória e alergia a pulga. Os sintomas são principalmente de coceira no corpo – em áreas específicas ou generalizada – mas pode haver também sintomas respiratórios e secreção nasal e oral. O mais difícil parece ser descobrir a causa da alergia.
Quando a alergia é alimentar, fica fácil resolver o problema. Em geral, os gatos têm alergia ao componente protéico da ração e no mercado existem rações hipoalergênicas, que possuem proteína de soja ao invés de proteína animal. Sei que a Royal Canin tem ração hipoalergênica para gatos, mas não sei dizer se alguma outra empresa também oferece. Torcendo para que a alergia da Maroca fosse alimentar, comprei um pacote da ração; que está em cima da minha geladeira até hoje. Pois é, a Marie se recusou a comer. Ela literalmente preferia passar fome a comer a tal ração de soja. Vegan ela não é e nem pretende ser.
A opção foi buscar uma ração que tivesse apenas um tipo de proteína animal e torcer para ela não ser alérgica àquele tipo específico. Olhei todas as embalagens do mercado e a grande maioria das rações mistura diversos tipos de carne. Só encontrei mesmo a Guabi que só tinha proteína de frango. Comecei a dar e nada da coceira melhorar. A veterinária explicou que levava pelo menos 8 semanas para que todos os componentes da ração anterior saíssem do sistema e só então poderíamos analisar se a mudança de alimentação tinha ou não melhorado a coceira.
Passamos então para a alergia de contato. Logo de cara, trocamos a areia sanitária. Experimentei várias – de pedrinhas, de trigo, de madeira – e acabei optando pelo trigo, mas nada da coceira melhorar. Proibi todo e qualquer material de limpeza em casa – só usamos álcool e água sanitária bem diluída – e por fim troquei o sabão em pó por sabão de coco. Nada melhorava e as feridas estavam cada vez piores. A Marie não tinha mais pêlo no queixo e tivemos que colocar o colar elisabetano para ela parar de se machucar.
Nesse meio tempo, mudamos de veterinária. A primeira disse logo de cara que seria quase impossível descobrir a causa da coceira. Disse que podia ser alérgica ou auto-imune e passou logo um tratamento com corticóide. Chegamos a dar um ciclo de corticóides meio temerosos e, apesar de diminuir um pouco a coceira, o tratamento não eliminou o problema.
Mudamos de veterinária e a nova – especializada em gatos e que continua tratando a Marie até hoje – disse que a alergia podia estar relacionada a estresse, já que tinha começado logo depois da cirurgia. Compramos então um difusor com Feliway. Propondo ser “o segredo do gato feliz”, o Feliway é um análogo sintético do ferormônio facial dos gatos, que é usado para marcar o território (farei um post sobre isso no futuro), e teoricamente cria um ambiente de segurança e familiaridade para o gato. Resumindo: também não funcionou.
Acabamos fazendo mais um ciclo de corticóides que teve um efeito péssimo na Marie – segunda desventura que será abordada em algum dos próximos posts – e fomos para uma dermatologista que também não resolveu o problema. Final da história: de uma hora para outra a coceira foi diminuindo. O fato é que durante um período grande estávamos cercados de obras: no apartamento em cima, no prédio da frente e na rua.  E quando as obras acabaram a coceira melhorou. Não posso afirmar que o problema fosse esse, mas o pêlo do queixo voltou a crescer. Acho que a Marie é alérgica a poeira e que o estresse potencializa o problema. É só alguém falar um pouco mais alto que ela começa a se coçar. De vez em quando ela ainda acorda com os olhos lacrimejando ou se coçando demais, mas é só dar anti-alérgico por alguns dias que ela melhora. E o mais legal é que ela aprendeu que não pode se coçar com força. Quando ela começa a se coçar, a gente diz “devagar, Marie” e ela deixa de fazer força. Parece incrível, mas é verdade! A moral da história é: se o seu gato é alérgico, tente eliminar a causa da alergia ao invés de tratar com corticóide. Prometo pesquisar sobre testes de alergia e imunoterapia em gatos para postar logo logo.

Na foto, Marie super insatisfeita com o colar elisabetano feito de filme para raio-X.