quarta-feira, 12 de março de 2014

Sobre gatos e bebês


Pois é, há séculos não posto nada. E o motivo principal é que o ano de 2013 foi bem complicado. Marie passou por uma uveíte, vários momentos de anemia grave e 3 transfusões de sangue. Mas a história é longa e fica para um próximo post. No post de hoje quero falar sobre bebês, na verdade sobre o meu bebê. Em dezembro do ano passado, a família cresceu e a Marie sentiu muito chegada do bebê.
Enquanto estava grávida, conversei com ela várias vezes, explicando a situação e dizendo que apesar de eu ter que dividir a atenção entre os dois, eu ficaria também mais tempo em casa. Deixamos ela participar de todas as transformações da casa. Ela entrava sempre no quarto do bebê para ver o que estava acontecendo e assim que montamos o carrinho subiu na cestinha e deitou. Ela se aconchegava com frequência na minha barriga e eu tinha certeza de que tudo daria certo.
No dia em que ele nasceu, minha mãe foi dormir com a Marie e levou uma roupa que o bebê tinha usado para ela cheirar. Quando cheguei em casa, ela veio cheia de amor para dar – já que não me via há algum tempo – mas assim que viu o bebê, ficou com medo. Mostrei a ela, expliquei, mas a reação não foi boa. Nos dias que se seguiram, Marie passou a me evitar. Ela não ficou exatamente com ciúmes, ela ficou com pânico daquele ser que ela não conseguia entender. E o que foi mais triste é que ela começou a fugir de mim. Era como se eu e o bebê fossemos uma coisa só que a deixava apavorada. Tentei passar todo o meu tempo livre (que não era muito) com ela. Deixava de dormir para ficar um pouco com ela. Mas não adiantou. Ela parou de comer. Comia um grão ou outro quando eu não estava olhando e só. E não demorou a começar a lamber o cimento da varanda. Eu já sabia: ela estava anêmica novamente.
O que quer que esteja causando a anemia da Marie – o vírus, micoplasma ou simplesmente uma reação autoimune – certamente é agravado em situações de estresse. E nervosa, sem comer, Marie voltou àquele quadro que infelizmente conhecemos tão bem. Ficamos então com um bebê recém-nascido e uma gatinha que eu sabia que precisava levar ao veterinário para receber nova transfusão. Dias complicados! O maior problema é que todas as vezes que levamos a Marie ao veterinário ela se estressa tanto que o quadro de anemia piora. Levamos uma gata anêmica, porém ativa e voltamos sempre com uma gata que mal levanta da cama. Decidimos, então, mudar de estratégia e evitar ao máximo uma nova transfusão. Ligamos para a veterinária, conversamos com ela e ela acabou concordando em repetir o tratamento que tínhamos feito anteriormente sem a transfusão para avaliar se haveria melhora. Entramos com corticoide em dose imunossupressora junto com suplemento de ferro e doxiciclina para uma possível infecção por micoplasma. Marie estava sem comer há duas semanas quando começamos com o corticoide. A resposta foi imediata. Voltou a comer e aos pouquinhos foi ficando mais forte. Paramos gradativamente os remédios e estamos avaliando dia a dia o estado geral dela.
Por enquanto ela está bem, comendo bastante e brincando muito. Ainda não entende muito bem o bebê, mas já entra no quarto dele, vem cheirar o pezinho de vez em quando e me olha com nítida preocupação quando ele começa a chorar. Ainda não fez as pazes comigo. Mas de vez em quando me dá a honra de sentar no meu colo quando o bebê está dormindo no berço e às vezes até se enrosca nas minhas pernas. À noite, depois que coloco o bebê para dormir, Marie vem me provocar para brincar como quem diz: “agora é a minha vez!”. Pede que eu corra atrás dela e eu vou. Brincamos até ela cansar. Nossa relação ainda está longe de ser o que era, mas aos pouquinhos as coisas estão voltando ao lugar.

sábado, 24 de novembro de 2012

Unhas que não descamam


O post de hoje é um pouco diferentes dos anteriores, porque ao invés de trazer uma explicação, eu trago um problema que a Marie vem enfrentando. Como todas as pessoas que convivem com gatos sabem, as unhas deles descamam com o tempo. É comum encontrar pelo chão o que parece ser uma unha inteira mas que na verdade é a “carapaça” da unha, a parte externa que cai, deixando no lugar uma unha fininha e super afiada. Isso é normal e deve acontecer. O problema é que as unhas da Marie não têm descamado e por isso ficam grossas demais. Ela não consegue retrair direito as unhas, faz barulho quando anda e fica sacudindo as patinhas incomodada. E para piorar ela fica mordendo as patas o tempo todo. Para cortar é um suplício. Ela grita, esperneia, chora e como a unha é grossa é realmente difícil de cortar. Acabo tentando quebrar as laterais e descascar com as minhas próprias unhas, mas nem sempre consigo. Já levei na veterinária, mas ela teve ainda mais dificuldade do que eu.
Pesquisando sobre o assunto, descobri que o fenômeno é comum em gatos velhos, que são pouco ativos e não usam o arranhador. Mas a Marie tem só 3 aninhos e usa bastante os arranhadores. Acho então que talvez eu não tenha escolhido o melhor material para ela arranhar. Os arranhadores aqui de casa são compostos por um poste de sisal e um pé recoberto de feltro. Ela detesta o sisal, mas adora o feltro. Mas como o feltro é fino, acho que não funciona muito bem. Tentamos até colocar catnip na parte de sisal para estimular, mas não funcionou. A nova tentativa é uma caixa de papelão, mas por enquanto isso também não surtiu grandes efeitos. E por isso eu pergunto: alguém enfrenta o mesmo problema?  Alguém sugere uma solução? Aguardo sugestões.
Na foto, Marie pegando sol no arranhador.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Venus, a gata celebridade


Eu sou meio desligada em relação a fenômenos da internet. Por isso, só hoje descobri que uma gatinha de três anos chamada Venus vinha atraindo a atenção do mundo todo nos últimos meses e tinha sido até matéria do Fantástico recentemente. Para quem ainda não conhece a Venus, ela é uma gatinha no mínimo curiosa. Ela possui metade do rosto com pelagem preta e olho verde enquanto a outra metade tem pelagem laranja e olho azul. O mais curioso é que a divisão é perfeita, como se a gatinha tivesse sido pintada daquela forma. É realmente impressionante. Venus ficou tão famosa que já tem página no Facebook (https://www.facebook.com/VenusTheAmazingChimeraCat)   e fez até uma participação no Today Show (http://video.today.msnbc.msn.com/today/48824731#48824731).
Em entrevista à National Geographic, a pesquisadora Leslie Lyons disse que a gatinha pode ser resultado de mosaicismo ou quimerismo. O mosaicismo foi o fenômeno que eu expliquei no meu post anterior. Como o gene para cor laranja ou preta está no cromossomo X, em gatas fêmeas uma célula pode ter o gene de cor preta “ligado” e a célula vizinha pode ter o gene de cor laranja “ligado”. No caso da Venus, essa exótica combinação teria sido então fruto do acaso. Em metade do rosto da gatinha o gene de pelagem de cor laranja foi “ligado” e na outra metade o gene da cor preta foi “ligado”. Mas tenho que admitir que a distribuição parece perfeita demais para ser fruto do acaso.
A segunda opção é a do quimerismo. Na mitologia grega, quimera era um monstro formado por partes de leão, cabra e cobra. Em ciência, o termo é utilizado para se referir a um organismo formado por células com material genético diferente. Além das quimeras feitas em laboratório, algumas ocorrem naturalmente. Em vacas que têm gêmeos, por exemplo, parece que é comum que os fetos compartilhem algumas células e, desta forma, os dois  tornam-se  quimeras. Da mesma forma, durante a gestação, dois zigotos (cada um fruto da união de um óvulo com um espermatozoide) podem se fundir formando um indivíduo único, a quimera. Seria como se dois gêmeos se fundissem em um único indivíduo. Esse evento é raro, mas poderia explicar a aparência da gatinha Venus. O mistério, entretanto, só será solucionado após a análise do DNA da gata. O mais curioso segundo Leslie, entretanto, não é a pelagem da Venus, mas o fato da gatinha possuir um olho azul, característica de gatos albinos. Como ela mesma coloca: "She is a bit of a mystery". Quer saber mais? Confira a reportagem da National Geographic em:




segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Só as fêmeas têm três cores?


Eu aprendi ainda criança que só as gatas fêmeas tinham três cores. Ninguém nunca me explicou o motivo e até pouco tempo eu tinha isso como verdade. Esse final de semana, no entanto, estudando um pouco sobre genética de gatos descobri que, apesar de raros, existem sim alguns gatos machos tricolores. Vou explicar melhor: aparentemente, o gene que determina a pelagem preta e a pelagem laranja fica localizado no cromossomo X, enquanto o gene que determina a pelagem branca fica localizado em outro cromossomo. Quem se lembra das aulas de genética do colégio sabe que como as fêmeas têm dois cromossomos X, um dos cromossomos é inativado e recebe o nome de corpúsculo de Barr ou cromatina sexual. Dependendo da célula, o cromossomo X materno ou o paterno está ativado, o que permite que haja um verdadeiro mosaico. Ou seja, uma gata que tenha o gene de cor preta (recessivo) em um cromossomo X e o gene de cor laranja (dominante) no outro cromossomo X pode apresentar uma pelagem mesclada, com algumas células expressando o preto e outras expressando o laranja. Deu pra entender?
Como os machos só tem um cromossomo X, eles só podem ser de uma única cor ou ter pelagem branca e laranja ou branca e preta, mas não preta e laranja. E, consequentemente, não podem ter as 3 cores. Simples, não? Mas enquanto eu pesquisava sobre o assunto, me deparei com uma resenha do livro Cats Are Not Peas: A Calico History of Genetics” de Laura Gould. Eu não li o livro – que parece bastante interessante – mas a resenha explicava que a autora tinha decidido escrever sobre o assunto após adotar George, um gato macho de três cores! Pois é, uma pessoa que nunca tinha estudado genética antes resolveu pesquisar sobre isso para entender como o seu gato podia existir, já que ele era teoricamente impossível. Muito legal, né? O título do livro (em português: gatos não são ervilhas) remete para o fato de que muitos das descobertas de Mendel – que deram início à genética clássica – foram feitos em ervilhas. E, logicamente, gatos não são ervilhas!
Procurando alguns artigos sobre isso, cheguei a uma conclusão parecida com a de Laura. Alguns autores já descreveram que existem gatos machos tricolores com cariótipo XXY. Ou seja, eles têm o que em humanos é chamado de síndrome de Klinefelter. Como eles possuem um cromossomo X a mais, eles podem ter um X com gene de cor laranja e outro X com gene de cor preta, apresentando uma pelagem semelhante a que observamos em algumas fêmeas. Aparentemente esses gatos têm algumas características comuns aos pacientes humanos com a síndrome de Klinefelter. Eles são inférteis e alguns apresentam anomalias nos testículos. No trabalho de Thuline e Norby, publicado na revista Science em 1961, os autores descrevem um gato tricolor XXY que sequer tinha vestígio de sistema reprodutivo! Curioso, não? Pois é, vivendo e aprendendo. Parece que a Laura ficou satisfeita em saber que seu gato não era o primeiro macho tricolor descrito e que assim nenhum geneticista ia ficar atrás dele. Quer saber mais sobre o assunto? Confira Cats Are Not Peas: A Calico History of Genetics”, de Laura Gould e “Spontaneous occurrence of chromosome abnormality in cats” (H.C. Thuline e Darwine Norby, Science, 1961).


E a história se repete: uma vez com pica, sempre com pica!


Se o seu gato já comeu alguma coisa estranha, prepare-se: ele pode comer de novo. Pois é, infelizmente há um pouco mais de um mês a Marie comeu um corpo estranho pela terceira vez (a primeira vez está descrita em “a primeira desventura de Marie” e a segunda eu ainda não contei aqui). Inacreditável, mas parece que a pica da Maroca continua à toda.
Outro dia estávamos na casa de uns amigos e uma amiga nossa – cuja gata já foi operada por comer barbante – comentou que a pica geralmente aparece 4 meses após a mudança de ambiente do gato. Ela disse que no caso da gata dela o evento tinha acontecido exatamente 4 meses depois que ela tinha se mudado. Na mesma hora eu pensei: nós nos mudados há 4 meses... Em certas coisas a gente não deve nem pensar, né?
Logo depois disso, acordei com a Marie deitada na minha barriga e fazendo uns sons estranhos. Parecia literalmente que ela tinha alguma coisa entalada na garganta. Levantei no susto e ela começou a ter ânsia de vômito. Corri para chamar o meu namorado no banho: “Tem alguma coisa estranha com a Marie”. Ele não pensou duas vezes: “Vamos correndo para o veterinário”. Abri a boca da gata, mas como não vi nada, coloquei ela na caixa de transporte e fomos para a clínica. Quando chegamos, fui informada que no momento só havia uma veterinária de plantão que estava atendendo uma emergência. A recepcionista disse que ia pedir que ela desse uma olhada na Maroca para avaliar se podíamos ou não esperar um pouco. Ela chegou, olhou a gata e disse que devia ser um resfriado e que não era nada urgente. Mas nós conhecemos muito bem a Marie! Falei logo que ela já tinha comido corpo estranho duas vezes e que estava com medo de que fosse o terceiro. Ela resolveu dar uma olhada e assim que abriu a boca da gata disse: “tem alguma coisa lá dentro”. Danada essa Marie!
O caso virou uma emergência e a veterinária disse que como a Marie era uma fera seria preciso anestesiar para retirar o tal corpo estranho. Foi tudo bem rápido, mas confesso que fiquei nervosa quando a Maroca caiu anestesiada e tive que sair da sala para não estressar a veterinária. No final das contas, ela tinha comido uma etiqueta plástica dessas que fica presa nos fios para indicar a voltagem do equipamento. Só que ela engoliu o negócio inteiro e ficou entalada. Dá pra acreditar?!? A sorte é que nós estávamos em casa e agimos rápido!
Por precaução, fizemos ainda uma ultranossografia, mas felizmente não tinha mais nada. Foi só um susto. Agora estamos redobrando a atenção. Fica então o alerta: se o seu gato tem pica, todo o cuidado é pouco!