Todo mundo provavelmente já ouviu falar de alguém que tem alergia a gato, certo? Agora acho que nem todo mundo sabe que gatos também têm alergia. Eu mesma nunca tinha pensado no assunto até a Marie começar a se coçar. Pois é, logo depois do episódio da rede de limão e coincidindo com uma viagem minha, a Marie começou a se coçar com muita força principalmente no pescoço, no queixo e nas orelhas. E como eu nunca consigo cortas as unhas da danada, ela se machucava muito cada vez que se coçava.
Na primeira visita ao veterinário – quando eu ainda estava viajando – foi passado um anti-alérgico. A princípio o anti-alérgico pareceu funcionar, apesar de deixar a gatinha extremamente sonolenta, mas era claro que não podíamos manter a Marie a base de Polaramine para o resto da vida. Comecei então a pesquisar sobre o assunto. Pelo que vi, existem 4 tipos principais de alergia em gatos: alergia de contato, alimentar, inalatória e alergia a pulga. Os sintomas são principalmente de coceira no corpo – em áreas específicas ou generalizada – mas pode haver também sintomas respiratórios e secreção nasal e oral. O mais difícil parece ser descobrir a causa da alergia.
Quando a alergia é alimentar, fica fácil resolver o problema. Em geral, os gatos têm alergia ao componente protéico da ração e no mercado existem rações hipoalergênicas, que possuem proteína de soja ao invés de proteína animal. Sei que a Royal Canin tem ração hipoalergênica para gatos, mas não sei dizer se alguma outra empresa também oferece. Torcendo para que a alergia da Maroca fosse alimentar, comprei um pacote da ração; que está em cima da minha geladeira até hoje. Pois é, a Marie se recusou a comer. Ela literalmente preferia passar fome a comer a tal ração de soja. Vegan ela não é e nem pretende ser.
A opção foi buscar uma ração que tivesse apenas um tipo de proteína animal e torcer para ela não ser alérgica àquele tipo específico. Olhei todas as embalagens do mercado e a grande maioria das rações mistura diversos tipos de carne. Só encontrei mesmo a Guabi que só tinha proteína de frango. Comecei a dar e nada da coceira melhorar. A veterinária explicou que levava pelo menos 8 semanas para que todos os componentes da ração anterior saíssem do sistema e só então poderíamos analisar se a mudança de alimentação tinha ou não melhorado a coceira.
Passamos então para a alergia de contato. Logo de cara, trocamos a areia sanitária. Experimentei várias – de pedrinhas, de trigo, de madeira – e acabei optando pelo trigo, mas nada da coceira melhorar. Proibi todo e qualquer material de limpeza em casa – só usamos álcool e água sanitária bem diluída – e por fim troquei o sabão em pó por sabão de coco. Nada melhorava e as feridas estavam cada vez piores. A Marie não tinha mais pêlo no queixo e tivemos que colocar o colar elisabetano para ela parar de se machucar.
Nesse meio tempo, mudamos de veterinária. A primeira disse logo de cara que seria quase impossível descobrir a causa da coceira. Disse que podia ser alérgica ou auto-imune e passou logo um tratamento com corticóide. Chegamos a dar um ciclo de corticóides meio temerosos e, apesar de diminuir um pouco a coceira, o tratamento não eliminou o problema.
Mudamos de veterinária e a nova – especializada em gatos e que continua tratando a Marie até hoje – disse que a alergia podia estar relacionada a estresse, já que tinha começado logo depois da cirurgia. Compramos então um difusor com Feliway. Propondo ser “o segredo do gato feliz”, o Feliway é um análogo sintético do ferormônio facial dos gatos, que é usado para marcar o território (farei um post sobre isso no futuro), e teoricamente cria um ambiente de segurança e familiaridade para o gato. Resumindo: também não funcionou.
Acabamos fazendo mais um ciclo de corticóides que teve um efeito péssimo na Marie – segunda desventura que será abordada em algum dos próximos posts – e fomos para uma dermatologista que também não resolveu o problema. Final da história: de uma hora para outra a coceira foi diminuindo. O fato é que durante um período grande estávamos cercados de obras: no apartamento em cima, no prédio da frente e na rua. E quando as obras acabaram a coceira melhorou. Não posso afirmar que o problema fosse esse, mas o pêlo do queixo voltou a crescer. Acho que a Marie é alérgica a poeira e que o estresse potencializa o problema. É só alguém falar um pouco mais alto que ela começa a se coçar. De vez em quando ela ainda acorda com os olhos lacrimejando ou se coçando demais, mas é só dar anti-alérgico por alguns dias que ela melhora. E o mais legal é que ela aprendeu que não pode se coçar com força. Quando ela começa a se coçar, a gente diz “devagar, Marie” e ela deixa de fazer força. Parece incrível, mas é verdade! A moral da história é: se o seu gato é alérgico, tente eliminar a causa da alergia ao invés de tratar com corticóide. Prometo pesquisar sobre testes de alergia e imunoterapia em gatos para postar logo logo.
Na foto, Marie super insatisfeita com o colar elisabetano feito de filme para raio-X.