domingo, 23 de janeiro de 2011

A primeira desventura de Marie

Bom, como nem tudo são flores, chegou a hora de contar um pouco das desventuras da Marie citadas ali no subtítulo do blog.
Sua primeira desventura aconteceu em abril de 2010, quando ela tinha mais ou menos 7 meses de idade. Marie sempre foi muito brincalhona e adorava quando a gente jogava uma bolinha, balançava uma fita ou qualquer outra coisa improvisada. Um dia, saímos de casa rapidamente para comprar alguma coisa e quando voltamos encontramos Marie fazendo uns barulhos estranhos. Fomos correndo até ela e de repente ela vomitou. Como ela nunca tinha feito isso antes, fiquei nervosa e liguei logo para a veterinária. Era um domingo e a clínica não funcionava, mas ela atendeu o celular e disse que o vômito poderia ser resultado de alguma irritação, provavelmente gerada por alguma coisa que ela tinha comido. Como dentro da pia da cozinha eu tinha deixado uma panela com sabão, imaginamos que esse era o motivo da irritação e ela receitou um remédio para enjôo. Dei o remédio, mas o vômito não parou. Marie continuou vomitando o resto do dia. Liguei novamente para a veterinária e ela me aconselhou a levar a gatinha para uma clínica especializada em gatos que funcionava 24 horas por dia. Já era noite e eu e meu namorado fomos correndo levar a Marie para a clínica.
Acho que não comentei isso antes, mas a minha gatinha é, digamos assim, um pouco temperamental e a ida para o veterinário é sempre meio dramática. Assim que descrevemos o problema para a veterinária de plantão ela disse que tudo indicava que a Marie tinha ingerido um “corpo estranho”. Ou seja, tudo indicava que ela tinha comido algo que não era comestível. O exame clínico foi inconclusivo – até porque é bem complicado examinar a Marie – e a veterinária me fez prometer levá-la para fazer uma ultrassonografia na segunda de manhã o mais cedo possível. Passamos uma noite péssima, Maroca vomitou o tempo todo e de manhã ela finalmente vomitou o “corpo estranho”. O tal “corpo estranho” era um pedaço daquela redinha de nylon que em geral é utilizada para limão e que na véspera eu tinha usado para brincar com a Marie. Óbvio que eu não podia imaginar que além de brincar e morder a rede ela ia efetivamente comê-la, mas confesso que fiquei culpada. Fomos correndo para a ultrassonografia torcendo para que ela já tivesse eliminado toda a rede. Precisamos de três pessoas para segurar a Marie enquanto o exame era feito. Ela não parava de se mexer e a veterinária não parava de suar. Finalmente veio o veredicto: havia ainda um “corpo estranho” no intestino e alguma coisa no estômago, que poderia ser ar.
Voltamos para a clínica e a veterinária foi enfática: era necessário operar a Marie o mais rápido possível. Não gosto nem de me lembrar. Aquelas horas de espera enquanto ela estava na cirurgia foram algumas das horas mais angustiantes da minha vida. Quando finalmente liguei e me informaram que a cirurgia tinha acabado, corri para vê-la. Tiraram um pedaço de rede do intestino e um pedaço ainda maior do estômago. Minha gatinha estava ainda meio anestesiada, fraquinha, mal se agüentando em pé, mas tava lá, fazendo pose de durona e rosnando para todo mundo que se aproximasse. Essa é a nossa Marie.
A veterinária recomendou então que a Maroca ficasse internada uns 3 dias para controlar o risco de infecção e nos mandou para casa. Fui embora com o coração apertado. Muito estranho chegar e não ver a Marie nos esperando na porta. Acho que não estávamos nem há 15 minutos em casa quando o telefone tocou. Era a veterinária: “Será que vocês podem buscar a Marie hoje? É que ela está assustando os outros gatos.” Pois é, essa é a nossa gatinha. Os 3 dias de internação foram rapidamente transformados em algumas horas, porque aparentemente ela arrancou o soro e rosnava e gritava tanto que ninguém conseguia se aproximar dela. Os outros gatinhos internados estavam ficando assustados. Mas tudo bem, o importante é que voltamos para casa com a nossa Marie. Acho que não ia mesmo agüentar a agonia de ficar longe dela. A cirurgia correu bem e nos dias seguintes ela tomou uma porção de remédios (antibiótico, antiinflamatório, analgésico e sei lá mais o quê) e foi se recuperando super bem. Eu tinha viagem marcada para os Estados Unidos para 2 semanas depois dessa confusão toda, mas felizmente a Maroca se recuperou antes disso.
A partir desse episódio, nossa gatinha ficou conhecida na clínica como a “Marie do corpo estranho”. Meu namorado acha um absurdo e diz sempre que o corpo dela é normal.  De qualquer forma, fica o alerta para todo mundo que tem gato: muito cuidado com os brinquedos que vocês oferecem a eles. Muitos gatos apresentam desvio de comportamento e acabam comendo o que não devem. Como eles não conseguem eliminar esses “corpos estranhos” como os cachorros em geral fazem, a única solução é cirúrgica. Então, todo cuidado é pouco!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Por que os siameses escurecem?

Quando peguei a foto da Marie pequenininha para colocar aí no post anterior tomei um susto. Marie escureceu muito desde que chegou aqui! E apesar da Marie não ser uma siamesa e sim uma legítima “sialata”, ou seja, uma mestiça de siamês com vira-lata (ou gato sem raça definida se vocês preferirem), ela herdou essa característica dos siameses. Embora ou não soubesse disso quando especifiquei que queria uma siamesa de pêlo claro, descobri depois que todos os siameses nascem clarinhos e vão escurecendo com a idade. Mas por que isso acontece?
Bom, pesquisando rapidamente descobri que os gatos siameses possuem um tipo de albinismo. Albinismo? Pois é, quando a gente pensa em albinismo pensa logo naquele coelhinho branco com olhos vermelhos ou naquela pessoa bem branca que não pode pegar sol, certo? Mas na verdade o albinismo está relacionado a defeitos na enzima responsável pela produção da melanina, proteína responsável pela pigmentação da pele ou do pêlo. Os gatos siameses – e todos os gatos que apresentam padrão de coloração semelhante aos siameses, chamado em inglês de point ou colourpoint – possuem uma mutação na enzima tirosinase, que estimula a produção da melanina. Essa mutação resulta da substituição de um aminoácido apenas e é diferente para gatos siameses ou gatos sagrados da Birmânia. Mas nos dois casos, a enzima mutante é sensível a temperatura e só é ativa a temperaturas mais baixas que a temperatura corporal. Desta forma, os gatos siameses possuem pigmentação apenas nas regiões mais frias do corpo, como a face, o rabo e as patas. A falta de pigmentação nos olhos faz com que eles sejam azuis. Iluminando o olho da Marie eu vejo claramente que ele fica avermelhado! Mais um indício de que a minha gatinha é albina! Quando o olho de um gato é pigmentado, ele fica esverdeado quando iluminado. O albinismo traz uma série de conseqüências para a visão! Mas isso já é assunto para outro post.
Voltando à questão do pêlo, como o útero é quentinho, os gatinhos nascem bem clarinhos e vão escurecendo com o tempo. Gatos siameses que vivem em regiões mais frias tendem a escurecer mais do que gatos que vivem em regiões tropicais. Incrível que a Marie tenha escurecido tanto vivendo no Rio de Janeiro!!
Siameses e sagrados da Birmânia em geral são homozigotos para a tirosina mutante. Ou seja, tanto o cromossomo herdado da mãe como o cromossomo herdado do pai apresentam a forma mutante da enzima. Gatos heterozigotos para a mutação – ou seja, que possuem essa mutação em apenas um dos cromossomos – apresentam uma gradiente de cores intermediário. Acho que a Marie é heterozigota.
Agora uma curiosidade: essa mutação na tirosinase não ocorre apenas em gatos. Coelhos e camundongos, por exemplo, podem apresentar a mesma mutação. Nesse caso, eles são chamados de himalaios. Embaixo fotos da Marie antes e depois de escurecer e uma foto de um coelho himalaio.