segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Votos da Maroca

Na correria não consegui postar os votos da Marie antes do Natal, mas posto agora desejando a todos um feliz 2012!

domingo, 11 de dezembro de 2011

Gatos odeiam gaita?


Pois é, constatei ontem que a Marie odeia o som de gaita. O meu namorado tem uma gaita e sempre que ele toca a Marie olha com cara de desespero para ele e sai correndo. Até aí tudo bem. Achei que ela simplesmente não entendesse o que estava acontecendo e se perguntasse “de onde está vindo esse som?”. Mas não, ela realmente parece ter medo do som produzido pela gaita. Ontem estávamos vendo um filme e a Marie estava deitada do nosso lado dormindo tranquilamente. Quando começou a tocar uma música de gaita a gatinha levantou, nos olhou com cara de pavor total e saiu correndo! Tivemos que desligar o filme, acalmar a gata e prometer que não colocaríamos mais aquele som terrível. Resolvi então pesquisar um pouco o assunto e vi vários relatos de pessoas dizendo que seus gatos odeiam gaitas. Engraçado, né? Aparentemente tanto gatos quanto cachorros  comumente odeiam o som produzido por gaitas. Acredito que seja uma questão de frequência do som, já que esses animais são mais sensíveis do que nós a altas frequências, mas confesso que apesar de ter procurado bastante não encontrei nenhuma explicação científica para o medo absoluto que eu vi nos olhos da Marie. Se alguém tiver alguma sugestão ou souber de algum gato que também tem pavor de gaita, por favor me escreva. De qualquer forma, a gaita está banida aqui de casa. A Maroca não pode se estressar e como a veterinária dela definiu, sua vida tem que ser “um mar de rosas”.
Agora, apesar de não ter encontrado a explicação científica que estava procurando, encontrei uma curiosidade interessante nas minhas buscas: o PawSense. Alguém sabe o que é isso? Aparentemente, o Pawsense é um software que foi desenvolvido para reconhecer o padrão de digitação de um gato no seu computador. É isso mesmo, depois de ouvir vários relatos de pessoas que perdiam arquivos importantes quando seus gatos resolviam passear pelas teclas do computador (a Marie fazia isso direto quando eu estava escrevendo a minha tese de doutorado), os responsáveis por esse software resolveram desenvolver uma ferramenta para deixar o seu computador “catproof”.Como as patinhas dos gatos são maiores que as teclas do computador, o programa consegue reconhecer o padrão e distinguir a digitação humana da “digitação” feita por um gato (em geral apenas duas pisadas do seu gato sobre as teclas são suficientes). Desta forma, ao reconhecer o chamado “cat-like typing” (ou digitação do tipo gato) , o programa bloqueia o teclado e emite um som desagradável para que o seu gato aprenda que não pode subir no teclado. Que som é esse? Eu não testei, mas aparentemente é um som de gaita! Engraçado, né? Se o seu gato costuma apagar constantemente aqueles arquivos mais importantes, fica a dica: http://www.bitboost.com/pawsense/index.html. Ah, e se você quiser deixar o seu gato tranquilo, sugiro que evite tocar gaita em casa.

sábado, 15 de outubro de 2011

Por que os gatos ronronam? Parte 2 ou Será que o ronronar dos gatos ajuda na regeneração dos ossos???


Antes de começar, tenho que explicar que o primeiro post sobre o ronronar dos gatos foi baseado em um artigo científico publicado em uma revista indexada. Este segundo post, ao contrário, é baseado apenas em uma página da internet da “Fauna Communications”. Teoricamente o trabalho foi publicado em uma conferência internacional em Bristol, no Reino Unido, mas como não tenho maiores garantias sobre a fonte dos dados, vou apenas relatar o que li e deixar que cada um conclua o que quiser.
Enfim, como mencionei no post anterior sobre esse mesmo assunto, ainda existe um debate com relação ao ronronar dos gatos e não se sabe ao certo porque eles ronronam. O fato é que eles ronronam não só quando estão satisfeitos mas também em situações de estresse. E como esse ato gasta bastante energia, é de se imaginar que haja alguma razão justificável por trás disso. No trabalho publicado pela Fauna Communications, 47 felinos foram gravados, incluindo gatos domésticos, pumas e jaguatiricas e o ronronar deles foi analisado. Eles descobriram, então, que o ronronar dos felinos gera frequências que caem na faixa considerada positiva para o crescimento ósseo. A frequência dominante foi de 25Hz ou 50Hz, que são consideradas as melhores frequências para o reparo de fraturas ósseas.
Aparentemente, estudos do Dr. Clinton Rubin mostram que a exposição a frequências baixas (de 20 a 50 Hz) aumenta a densidade óssea e galinhas colocadas diariamente em placas vibratórias desenvolveram ossos mais fortes. Engraçado, né? Em outros estudos coelhos teriam desenvolvido um melhor reparo de fraturas ósseas quando expostos a frequências nessa mesma faixa. Existem estudos, ainda, mostrando que frequências baixas auxiliam no alívio a dores e no reparo de tendões e músculos. Não chequei as fontes, mas parece que a estimulação biomecânica com frequências baixas vem sendo utilizada na medicina esportiva. Curioso, não?
O que o estudo da Fauna Communications propõe então é que a capacidade de estimular o fortalecimento ósseo quando em repouso seria uma vantagem evolutiva dos felinos que, na vida selvagem, são relativamente sedentários. Desta forma, o ronronar dos gatos seria um sistema de vibração terapêutico. Interessante, não? De fato, parece que os gatos têm poucos problemas ósseos quando comparados por exemplo aos cachorros. E, como todos sabem, gatos têm sete vidas! Agora se essa maior capacidade de reparar fraturas ósseas e a menor tendência a desenvolver doenças ósseas está realmente associada ao ronronar dos gatos é uma questão que ainda está em aberto, já que não foram feitos experimentos para testar efetivamente essa hipótese. De qualquer forma, tenho que admitir que a hipótese é no mínimo interessante. Fica então a dica: se você quebrar um braço ou uma perna, procure ficar o máximo de tempo possível perto de um gatinho ronronando. Tenho certeza de que a recuperação será mais rápida! Seja por causa da frequência ou não!
Quer saber mais? http://www.animalvoice.com/catpurrP.htm


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Gatos verdes ajudam na luta contra o HIV?


Ok. A essa altura todo mundo já leu a matéria sobre os gatos verdes. Confesso que demorei para escrever e talvez tenha perdido o timing. Mas para quem quiser um pouco mais de informação do que as resenhas dos sites que encontrei por aí, sugiro que leiam a minha versão da história.
Bom, a ideia de produzir gatos verdes parece ficção científica, mas em pesquisa, nós comumente criamos organismos geneticamente modificados expressando uma proteína verde para que possamos diferenciá-los dos demais. Compliquei? Vou tentar explicar melhor: a proteína GFP (do inglês green fluorescent protein), ou proteína fluorescente verde, foi extraída de uma alga e atualmente é utilizada para localizar alguma modificação. Por exemplo, se pretendemos transplantar células de um animal para outro, podemos inicialmente marcar as células transplantadas com GFP e depois transplantá-las. Dessa forma, podemos facilmente distinguir as células verdes (transplantadas) das células do animal hospedeiro. Ficou claro? Esse é apenas um exemplo, porque as aplicações da técnica são inúmeras.
Recentemente, Pimprapar Wongsrikeao e colaboradores, de Rochester, Minnesota, criaram gatos geneticamente modificados para expressarem GFP. Ou seja, criaram gatos verdes. Para isso, eles injetaram um vírus que carregava GFP nos ovócitos de gatas (antes ou depois da fecundação in vitro) e colocaram os embriões modificados no útero de outras gatas. O processo não é tão simples como pode parecer e de 418 ovócitos infectados com os vírus, 22 embriões foram implantados em diferentes gatas e nasceram apenas 3 gatinhos. Dois machos e uma fêmea receberam o nome de TgCat1, TgCat2 e TgCat3, respectivamente. Tenho que fazer um parêntese aqui para dizer que esses pesquisadores não tinham criatividade nenhuma para dar nome aos gatos! Enfim, os gatinhos eram verdes quando iluminados por uma luz especial e se desenvolveram normalmente, com exceção do TgCat2, que apresentou vários problemas (dermatite, hérnia, problemas no olho). Já comecei a ficar com pena dos gatinhos. Depois que cresceram, eles acasalaram e os filhotes mantiveram a expressão de GFP.
A ideia principal do trabalho era apenas essa, provar que era possível criar um gato transgênico. E parece que esta foi a primeira vez em que essa técnica foi utilizada em uma espécie carnívora. Técnicas diferentes já tinham sido utilizadas, mas o rendimento era muito baixo. Mas, além disso, os pesquisadores colocaram uma outra modificação nos embriões e, além de expressarem a proteína verde, eles expressavam o gene TRIM5α, que confere resistência ao HIV em macacos rhesus. Quando as células dos gatinhos verdes foram infectadas com FIV – o correspondente felino do HIV – os pesquisadores observaram que as células eram resistentes à replicação do vírus! Essa resistência era parcial, apenas, mas o resultado é sem dúvida interessante.
Como ainda não foi feito nenhum experimento de infecção nos animais (não consigo pensar em gatos como cobaias; é muito triste pra mim), ainda não se sabe se apenas esse gene seria capaz de impedir a contaminação dos animais, a replicação do vírus e/ou o desenvolvimento da doença ou se seriam necessários outros genes. De qualquer forma, como existem duas pandemias de AIDS no mundo, uma em humanos e outra em felinos e como o FIV e o HIV são extremamente parecidos, esses gatinhos verdes podem ajudar – quem sabe – no estudo de uma possível terapia gênica contra o HIV. Isso tudo ainda está bem distante e devo dizer que não me senti bem ao pensar naqueles gatinhos verdes no laboratório, mas espero que um dia eles sejam úteis na cura contra o HIV e o FIV.  Quer saber mais? Leia o artigo completo: “Antiviral restriction factor transgenesis in the domestic cat”, de Wongsrikeao e colaboradores (Nature Methods, 2011).


sábado, 3 de setembro de 2011

Por que os gatos ronronam? Parte 1

Quem tem gato sabe muito bem que quando eles estão contentes começam a ronronar. A Marie, por exemplo, tem um ronronar super diferente, que quase se assemelha a um ronco. Eu sempre fiquei bem satisfeita em ouvi-la ronronar, certa de que aquele barulhinho era um sinal de satisfação e contentamento. Agora o que eu não sabia é que os gatos também ronronam quando estão com medo, machucados, dando a luz ou até mesmo quando estão morrendo. Triste, né? E o ronronar, gerado – pelo menos é o que se imagina - pela vibração do diafragma e da laringe, parece ser conservado nos felinos, estando presente até mesmo nos grandes felinos, como os leões.

Características que são conservadas em diferentes espécies em geral representam alguma vantagem evolutiva. Explicando melhor: quando alguma característica não confere nenhuma vantagem adaptativa a um animal, ela provavelmente acaba sendo perdida ao longo da evolução. Ficou claro? E para ronronar, o gato precisa gastar energia. Para gastar energia em situações de estresse – quando estão machucados, por exemplo – os gatos devem ter um bom motivo para isso. Mas que motivo seria esse?

Bom, essa parece ser mais uma daquelas perguntas de 1 milhão de dólares. E ao contrário do que provavelmente sugere o título desse post, eu não tenho uma resposta para ela, apenas uma sugestão que encontrei em um artigo publicado em 1973. O artigo é um relato de caso de um veterinário. O paciente em questão era um gato siamês de 6 anos de idade com infecção aguda no trato respiratório. O gatinho foi medicado mas fugiu e deixou de tomar os remédios por 3 dias. Quando reapareceu, o quadro dele era péssimo e o veterinário estava considerando a eutanásia. Prometo que a história vai ficar melhor.
Depois de dois dias internado, o gato foi levantado para que fosse  trocado de gaiola e nesse momento, ele começou a ronronar. Imediatamente a respiração dele começou a melhorar. Quando ele retornou à gaiola, parou de ronronar e voltou a ter dificuldades em respirar (num quadro conhecido como dispneia). O veterinário convocou então as duas filhas e pediu que elas  se revezassem com o gatinho no colo para que ele voltasse a ronronar. Elas estabeleceram então a “terapia do ronronar”, com períodos de colo a cada meia hora durante 24 horas. No dia seguinte, o gato começou a comer. Daí em diante, graças à terapia nova, o gatinho foi ficando cada vez melhor. Viu? Prometi que a história ia melhorar.
É claro que o carinho das meninas por si só poderia fazer com que o gato melhorasse, mas o veterinário acredita que o ronronar é que permitiu que ele voltasse a respirar. Aparentemente os gatos só conseguem respirar pela boca quando estão ronronando e isso seria de grande ajuda para evitar a dispneia. Gostou? Leia o artigo completo: “The relief of dyspnoea in cats by purring” de Cook, 1973.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Gatos de Roma

Pois é, faz um certo tempo que eu não coloco nada aqui no blog e um dos motivos é que eu acabei de voltar da Itália. Fui para um congresso de neurobiologia, mas aproveitei para tirar uns dias de férias e visitar Florença, Veneza e Roma. Durante a viagem, saudosa da Maroca, eu fotografei alguns gatos que encontrei pelo caminho. Não foram muitos, devo admitir, e estão todos na foto aí embaixo. Mas o que me impressionou mesmo foi como os italianos vendem souvenir de gatos! É sério. Eu tenho uma coleção de enfeites de gatos e toda vez que viajo procuro um gatinho novo para comprar. Normalmente tenho pouquíssimas opções e acabo comprando um mais ou menos só para completar a coleção. Na Itália, não tive esse problema. Eram várias opções!! Acho que nunca vi tantos assim. E observando isso, não pude deixar de pensar que os italianos devem gostar muito de gatos. Resolvi pesquisar um pouco sobre o assunto. 
Não achei nada muito oficial, mas vou dar uma resumida no que li. Aparentemente, Roma é famosa por ter um grande número de gatos de rua. A estimativa do "Ufficio Diritti degli Animali" é de que sejam cerca de 300.000!!! E o legal é que uma lei nacional de 1991 proibiu a matança de gatos de rua e em 2001 eles foram considerados patrimônio biocultural. Existe um serviço veterinário público que faz a castração gratuita desses animais e existem organizações que cuidam deles. O curioso é que os bichinhos parecem preferir as ruínas da Roma antiga. No coliseu, existem cerca de 200 gatos (eu infelizmente não vi nenhum por lá) mas a maioria deles fica no "Largo di Torre Argentina". Essas ruínas, que datam de 400 a 300 a.C., representam o local onde Júlio César foi assassinado por Brutus em 44a.C., e hoje são moradia para cerca de 250 a 300 gatos. Eu só consegui fotografar dois, mas eles estavam realmente lá, tomando sol embaixo de uma coluna romana.
Os gatos parecem ter chegado a Roma vindos do Egito e ajudavam a reduzir a população de ratos. Quando a Igreja católica começou a tratá-los como bruxaria e a caça-los, a população de ratos aumentou e a peste bulbônica chegou à Itália. Interessante, né? Mas isso já é assunto para outro post.
Quer ajudar um gato romano? O santuário de gatos da Torre Argentina pode ser contactado através do email: torreargentina@tiscali.it. Através deles você pode adotar um gatinho à distância!
Nas fotos, os gatos que encontrei na viagem.



quinta-feira, 30 de junho de 2011

Como os gatos se comunicam com os donos (ou como os gatos manipulam seus donos)

Muitas pessoas que não tem nem nunca tiveram contato com gatos talvez não acreditem, mas eles realmente aprenderam a se comunicar conosco. A Marie, por exemplo, tem um miado diferente para cada coisa que ela quer. Quando quer comida o miado é de um jeito, quando quer atenção o miado é outro, quando quer ajuda para caçar um bicho o miado já é completamente diferente. E por assim vai. Ainda não gravei para provar, mas encontrei um artigo que trata justamente desse assunto.
Karen McComb e colaboradores da Universidade de Sussex, no Reino Unido, gravaram o ronronar de 10 diferentes gatos em duas situações diferentes: numa situação em que o gato estava pedindo comida e numa situação em que o gato não estava pedindo nada. Ao contrário do que se pensa, os gatos não ronronam apenas quando estão felizes, mas também quando pedem comida e até mesmo quando estão sentindo dor. Os diferentes sons foram então exibidos para 50 voluntários donos ou não de gatos e em todos os casos os voluntários sabiam perfeitamente qual era o som de pedido, ou seja, em qual dos casos o gato estava pedindo comida. Incrível, né? Isso sem conhecimento prévio! É claro que os donos de gatos se saíram melhor nos testes do que os voluntários que não tinham contato nenhum com gato, provando que os gatos ensinam seus donos a reconhecer os seus miados!
Analisando a composição do som do ronronar dos gatos, os pesquisadores observaram que além do som em baixa freqüência – característico do ronronar – havia um componente de freqüência mais alta quando os gatos estavam pedindo comida. A inclusão de um componente de alta freqüência no ronronar faz com que ele fique menos harmônico e, por isso, mais incômodo. Ou seja, faz com que o dono tome alguma atitude! Além disso, o pico de freqüência está bem próximo à freqüência do choro de bebês humanos, fazendo com que os humanos fiquem mais suscetíveis a eles! Espertos esses gatos, né?
Quando a Marie mia no meio da noite eu juro que tento ignorar, mas não tem como. A gatinha sabe mesmo miar na freqüência certa!! Acho que os gatos já aprenderam mesmo a nos manipular. Quer saber mais? Confira o artigo completo: “The cry embedded within the purr”, de McComb e colaboradores (2009).

terça-feira, 7 de junho de 2011

No inverno, nada melhor do que cobertor de gato!

Bom, depois dos últimos posts, achei melhor escolher um assunto leve pra variar. O meu dia-a-dia com a Marie tem alguns momentos tensos, mas os momentos bons sempre superam os ruins!
Enfim, de uns tempos para cá, a Maroca tem estado ultra carinhosa conosco. A qualquer oportunidade ela sobe no nosso colo e pode ficar lá por horas, até as nossas pernas começarem a ficar dormentes. Comecei a relacionar, então, a carência da Marie com o frio e os dois são diretamente proporcionais! Ou seja, quanto mais frio, mais a gatinha procura o nosso colo. Durante a noite eu às vezes estou morrendo de frio, toda encolhida e é só a Marie chegar que eu vou esquentando, esquentando, até ficar realmente com calor. É por isso que eu digo: no inverno, nada melhor do que cobertor de gato!
A Marie é muito quentinha, tão quentinha que me fez pesquisar a temperatura corporal dos gatos. Pois é, os gatos são realmente mais quentes do que nós e a temperatura deles varia de 38 a 39 graus. É por isso que em geral eles agüentam temperaturas externas mais altas do que nós. Segundo a Wikipédia (pois é, não consegui nenhum artigo científico dessa vez), enquanto nós começamos a sentir desconforto a temperaturas de 44,5ºC, os gatos só sentem desconforto quanto a temperatura ultrapassa 52ºC! E eles podem tolerar temperaturas de até 56ºC!!! Em compensação, eles sentem frio no inverno. É por isso que dona Maroca está sempre procurando calor humano ou um edredom bem quentinho!

domingo, 8 de maio de 2011

A segunda desventura da Marie - continuação

Continuando o post anterior, eu precisava conseguir com urgência um doador para a Marie. Quando meu namorado chegou, ligamos para a minha irmã em Paris explicando a situação e pedindo doação de sangue da gata dela (que estava aqui no Rio). Ela foi mais do que prestativa e conseguiu dois doadores: o Gaspar, gato do Daniel, meu vizinho e amigo de anos da minha irmã (praticamente meu irmão) e a Panqueca, gata dela. Fomos primeiro com o Gaspar para a clínica para ver se eles eram compatíveis. Pelo que eu aprendi, existem 3 tipos sangüíneos de gatos: A, B e AB, sendo que mais de 80% dos gatos domésticos têm sangue do tipo A e o tipo AB é raríssimo. Ou seja, era pouco provável que eles não fossem compatíveis.
Como na clínica eles não têm o kit de tipagem sangüínea, para saber se os dois gatos são compatíveis eles misturam um sangue com o outro e vêem se há aglutinação, ou seja, vêem se há coagulação. Quando o sangue do Gaspar foi misturado ao sangue da Marie, veio o resultado: os dois não eram compatíveis. Ninguém podia acreditar. A veterinária ligou então para um banco de sangue na Lapa e explicou o problema. A bióloga responsável pelo banco disse que eles tinham lá um sangue tipo B que podia ser testado com o sangue da Marie.
Fomos correndo para a Lapa levando uma amostra do sangue da Maroca. A gatinha ficou na clínica em observação. No banco de sangue (que na verdade não possui sangue armazenado, mas vários doadores cadastrados que doam quando necessário) mais uma negativa: o sangue da Marie também não era compatível com o sangue B que eles tinham lá. Confesso que fiquei até aliviada, porque as condições de higiene do local não eram nada boas e eu não queria mesmo ter que comprar uma bolsa de sangue para a Marie lá.
No taxi voltando para a veterinária, acionamos a nossa última possibilidade: a Panqueca. Quando o terceiro sangue testado não foi compatível, a veterinária concluiu que na verdade a Marie estava com uma anemia hemolítica, ou seja, as hemácias dela estavam se rompendo e por isso estava havendo aglutinação com todos os sangues testados. A essa altura já havia saído o resultado da análise inicial do sangue dela e o resultado foi positivo para micoplasma. Como a infecção por micoplasma pode causar anemia hemolítica, comecei a pedir muito para que a anemia dela fosse causada pelo micoplasma e não pelo FeLV.
A essa altura não tínhamos como saber se a Marie era ou não compatível com a Panqueca, mas a veterinária disse que não poderíamos esperar e que a melhor opção seria fazer a transfusão assim mesmo. Foi o que fizemos. A pobre da Panqueca, que não tinha nada, foi anestesiada e virou doadora. Santa Panqueca. Receber o sangue dela foi a melhor coisa que podia ter acontecido com a Marie. Como disse o meu namorado, sangue de fera faz milagre. Impressionante. Logo que chegou em casa, Marie estava bem mais disposta e foi logo comer. Como melhorou rápido a minha gatinha!
Mas a transfusão resolveria apenas o problema imediato. Para tratar a Marie, saímos da clínica com receita para doxiciclina (para combater o micoplasma), um anti-retroviral (para o FeLV) e mais um composto de vitaminas com ferro para a anemia. Começamos o tratamento com a doxiciclina imediatamente, rezando para a anemia ter sido causada pelo micoplasma. A veterinária explicou que o sangue transplantado ficaria cerca de 10 dias no sistema da Marie e que depois disso seria a prova de fogo. Se a anemia fosse causada pelo micoplasma, quando a infecção fosse combatida, a Marie conseguiria manter o hematócrito normal depois que o sangue da Panqueca saísse do sistema dela. Caso a anemia fosse causada pelo vírus, a medula já estaria comprometida e a Marie não conseguiria manter o hematócrito normal. Marcamos um novo hemograma para a semana seguinte.
No meio tempo, uma nova luta para comprar o anti-retroviral. Esses remédios são utilizados para tratar pacientes HIV+ e são fornecidos pelo SUS. Ou seja, é quase impossível comprar. Acabei conseguindo comprar em São Paulo, graças à ajuda da minha tia e do Ronaldo e da Marília, amigos dela que mora lá e compraram o remédio pra mim e me mandaram por sedex. Mais uma luta vencida.
Finalmente fizemos o novo hemograma. Tensão total. O hematócrito normal de gato é de 30 a 45 (pelo menos pelo que eu achei numa busca rápida agora). O da Marie antes da transfusão estava 14. Depois da transfusão, a veterinária disse que esperava que subisse para 24. Após o hemograma, uma surpresa boa: hematócrito de 30%. Marie estava ótima. E o hematócrito se manteve normal todas as vezes que testamos. A anemia tinha sido realmente causada pela infecção oportunista do micoplasma. Nem acreditei.
A infecção por micoplasma foi provavelmente conseqüência da baixa imunológica causada pelo uso de corticóides. Ou seja, apesar da Marie ser FeLV positiva, até agora felizmente o vírus não se manifestou. Dos gatos que entram em contato com o vírus da leucemia felina, cerca de um terço consegue eliminar o vírus (precisamos estudar esses gatos resistentes!!), outro terço desenvolve a doença e o terço restante é portador do vírus mas nunca desenvolve a doença. Torço, rezo e peço muito para que a Marie esteja nesse último grupo. Tento não pensar no futuro. Tento não ler sobre expectativa de vida. Tento aproveitar ao máximo a gatinha linda que está ao meu lado. Tento pensar apenas que essa batalha foi vencida e que por enquanto nada mais importa.
Depois de tudo o que aconteceu, acho importante deixar um alerta para todos que pretendem adotar um gato de rua. Não deixem de adotar!! Adotem, porque ter gato é a melhor coisa do mundo!!! Mas peçam o teste para FIV e FeLV. É importante dizer que apesar de não ter cura, há vacina para FeLV. Essa doença horrível pode e deve ser combatida. Espero que haja mais divulgação da vacina, espero que sejam feitas campanhas de vacinação contra FeLV e que os nossos gatinhos deixem de ser contaminados. Prometo dar mais informações no próximo post.
Termino dizendo que muitos falaram que eu tive azar em adotar uma gatinha com FeLV. Para essas pessoas, eu tenho que dizer que eu tenho é muita sorte de ter a Marie ao meu lado. Não poderia desejar uma gatinha mais perfeita. Termino ainda agradecendo a todos que nos ajudaram a vencer essa segunda desventura da Marie: Daniel, Sérgio, Pedro e Tânia – que levaram ou ajudaram a levar o Gaspar e a Panqueca para serem testados – Vera, Ronaldo e Marília – que me ajudaram a comprar o anti-retroviral. Sem contar o Gabriel, meu namorado, que manteve o controle durante todo o tempo e fez tudo o que eu não consegui fazer. Obrigada a todos vocês.

Nas fotos, a super Panqueca, heroína da Marie, e o Gaspar.
Obrigada pela ajuda gatinhos!!!

sábado, 7 de maio de 2011

A segunda desventura da Marie

Desde que eu criei esse blog, sabia que teria que escrever esse post. E tentei adiar ao máximo, porque a segunda desventura da Marie é um assunto sobre qual eu procuro não pensar. Procuro não pensar porque foi difícil demais na época e porque é difícil ainda pensar no futuro. E se escrevo agora é porque sei que é importante informar a todos aqueles que têm gatos sobre um assunto do qual eu não tinha nenhum conhecimento. E só consigo escrever nesse momento porque a Marie está aqui deitadinha no meu colo me mostrando que está tudo bem.
Partindo então para o relato que espero ser sucinto – até porque é difícil entrar em detalhes –, a segunda desventura da Marie começou como conseqüência da alergia que eu mencionei anteriormente. Quando não se consegue determinar a causa da alergia, o tratamento em geral recomendado é o uso de medicamentos à base de glicocorticóides, que têm ação imunossupressora. Marie tomou dois ciclos de corticóides e depois do segundo ciclo, começou a ficar quietinha, tristonha. Como na época ela estava usando o colar elisabethano para não se machucar com a coceira, achei que a tristeza era por isso. Mas passados alguns dias ela quase não comia e quase não saía do lugar. Para uma gatinha super ativa como a Marie aquilo não podia ser normal. Quando liguei para a veterinária e relatei os sintomas, ela me disse que para levar a Marie correndo para a clínica. Era aniversário do meu namorado. Ele foi trabalhar e eu fui sozinha para o veterinário com a gatinha.
Quando chegamos lá, só de olhar para a Marie a veterinária disse: “ela está anêmica”. Quando ela tirou uma amostra de sangue para analisar o hematócrito, o sangue saía tão lento que ela disse: “ela está muito anêmica”. Enquanto a amostra era processada, ela me perguntou se a Marie já tinha tido pulga e depois parou e perguntou se ela já tinha sido testada para FeLV. Como eu nunca tinha ouvido falar disso, disse que achava que não. Ela se sentou e me explicou então que havia 3 principais causas de anemia em gato. A primeira delas era hemorragia, que não era o caso da Maroca. A segunda era infecção por micoplasma (Mycoplasma haemofilis  ou Mycoplasma haemominutum), que é transmido principalmente por picada e pulga, e a terceira era FeLV.
A sigla FeLV vem do inglês (feline leukemia virus) e significa vírus da leucemia felina. Eu nunca tinha ouvido falar nesse vírus e prometo dedicar um post só sobre esse assunto, mas falando rapidamente, o vírus da leucemia felina é um vírus que causa imunodeficiência semelhante ao FIV (o HIV felino), com o agravante de poder gerar leucemia. Foi muita informação para assimilar em um intervalo de tempo tão pequeno, mas a veterinária me explicou que o vírus não tinha cura e que quando chegava na medula óssea podia causar anemia. Ela me sugeriu fazer o teste e disse que o resultado era bem rápido.
O teste para FeLV e FIV pode ser feito por ELISA ou por PCR. No primeiro caso é bem semelhante ao teste para gravidez (aparece um sinal de + ou – caso o gato seja positivo ou negativo para um ou para os dois vírus). É só pingar uma gotinha de sangue no kit e o resultado sai em cerca de 15 minutos. Fui para a sala de espera desesperada e tentando assimilar tudo aquilo. Fiquei sentada com a Marie dentro da caixinha no meu colo pedindo de todas as formas que eu podia pedir para que a minha gatinha tivesse uma infecção de micoplasma. Nunca vi isso. Ao invés de ter pedido e rezado para que ela não tivesse FeLV, pedi para ela ter uma infecção por micoplasma.
Depois daqueles 15 minutos que me pareceram 15 horas de angústia, fui chamada de volta à sala. Marie foi diagnosticada com o vírus da leucemia felina. Naquele momento eu não conseguia assimilar mais nada. Chorava compulsivamente enquanto a veterinária dizia que o hematócrito da Marie estava baixíssimo e que ela teria que receber uma transfusão de sangue. Disse ainda que se o vírus tivesse chegado à medula óssea não haveria mais nada a fazer senão “colocar fim ao sofrimento dela”. Foi demais para mim. Aquilo não podia estar acontecendo, não com a minha gatinha. E naquele desespero todo eu precisava arrumar sangue para ela porque a veterinária disse que a transfusão precisava ser feita naquele dia. Ou seja, eu tinha que arrumar um gato doador ou recorrer a um banco de sangue.
Nunca tinha pensado nisso, mas não é muito simples conseguir sangue para um gato. Fui para a casa levando a Marie e assim que cheguei liguei para o meu namorado e pedi: “volta”. Era aniversário dele e um dos piores dias da minha vida.

(continua no próximo post)