segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Só as fêmeas têm três cores?


Eu aprendi ainda criança que só as gatas fêmeas tinham três cores. Ninguém nunca me explicou o motivo e até pouco tempo eu tinha isso como verdade. Esse final de semana, no entanto, estudando um pouco sobre genética de gatos descobri que, apesar de raros, existem sim alguns gatos machos tricolores. Vou explicar melhor: aparentemente, o gene que determina a pelagem preta e a pelagem laranja fica localizado no cromossomo X, enquanto o gene que determina a pelagem branca fica localizado em outro cromossomo. Quem se lembra das aulas de genética do colégio sabe que como as fêmeas têm dois cromossomos X, um dos cromossomos é inativado e recebe o nome de corpúsculo de Barr ou cromatina sexual. Dependendo da célula, o cromossomo X materno ou o paterno está ativado, o que permite que haja um verdadeiro mosaico. Ou seja, uma gata que tenha o gene de cor preta (recessivo) em um cromossomo X e o gene de cor laranja (dominante) no outro cromossomo X pode apresentar uma pelagem mesclada, com algumas células expressando o preto e outras expressando o laranja. Deu pra entender?
Como os machos só tem um cromossomo X, eles só podem ser de uma única cor ou ter pelagem branca e laranja ou branca e preta, mas não preta e laranja. E, consequentemente, não podem ter as 3 cores. Simples, não? Mas enquanto eu pesquisava sobre o assunto, me deparei com uma resenha do livro Cats Are Not Peas: A Calico History of Genetics” de Laura Gould. Eu não li o livro – que parece bastante interessante – mas a resenha explicava que a autora tinha decidido escrever sobre o assunto após adotar George, um gato macho de três cores! Pois é, uma pessoa que nunca tinha estudado genética antes resolveu pesquisar sobre isso para entender como o seu gato podia existir, já que ele era teoricamente impossível. Muito legal, né? O título do livro (em português: gatos não são ervilhas) remete para o fato de que muitos das descobertas de Mendel – que deram início à genética clássica – foram feitos em ervilhas. E, logicamente, gatos não são ervilhas!
Procurando alguns artigos sobre isso, cheguei a uma conclusão parecida com a de Laura. Alguns autores já descreveram que existem gatos machos tricolores com cariótipo XXY. Ou seja, eles têm o que em humanos é chamado de síndrome de Klinefelter. Como eles possuem um cromossomo X a mais, eles podem ter um X com gene de cor laranja e outro X com gene de cor preta, apresentando uma pelagem semelhante a que observamos em algumas fêmeas. Aparentemente esses gatos têm algumas características comuns aos pacientes humanos com a síndrome de Klinefelter. Eles são inférteis e alguns apresentam anomalias nos testículos. No trabalho de Thuline e Norby, publicado na revista Science em 1961, os autores descrevem um gato tricolor XXY que sequer tinha vestígio de sistema reprodutivo! Curioso, não? Pois é, vivendo e aprendendo. Parece que a Laura ficou satisfeita em saber que seu gato não era o primeiro macho tricolor descrito e que assim nenhum geneticista ia ficar atrás dele. Quer saber mais sobre o assunto? Confira Cats Are Not Peas: A Calico History of Genetics”, de Laura Gould e “Spontaneous occurrence of chromosome abnormality in cats” (H.C. Thuline e Darwine Norby, Science, 1961).


E a história se repete: uma vez com pica, sempre com pica!


Se o seu gato já comeu alguma coisa estranha, prepare-se: ele pode comer de novo. Pois é, infelizmente há um pouco mais de um mês a Marie comeu um corpo estranho pela terceira vez (a primeira vez está descrita em “a primeira desventura de Marie” e a segunda eu ainda não contei aqui). Inacreditável, mas parece que a pica da Maroca continua à toda.
Outro dia estávamos na casa de uns amigos e uma amiga nossa – cuja gata já foi operada por comer barbante – comentou que a pica geralmente aparece 4 meses após a mudança de ambiente do gato. Ela disse que no caso da gata dela o evento tinha acontecido exatamente 4 meses depois que ela tinha se mudado. Na mesma hora eu pensei: nós nos mudados há 4 meses... Em certas coisas a gente não deve nem pensar, né?
Logo depois disso, acordei com a Marie deitada na minha barriga e fazendo uns sons estranhos. Parecia literalmente que ela tinha alguma coisa entalada na garganta. Levantei no susto e ela começou a ter ânsia de vômito. Corri para chamar o meu namorado no banho: “Tem alguma coisa estranha com a Marie”. Ele não pensou duas vezes: “Vamos correndo para o veterinário”. Abri a boca da gata, mas como não vi nada, coloquei ela na caixa de transporte e fomos para a clínica. Quando chegamos, fui informada que no momento só havia uma veterinária de plantão que estava atendendo uma emergência. A recepcionista disse que ia pedir que ela desse uma olhada na Maroca para avaliar se podíamos ou não esperar um pouco. Ela chegou, olhou a gata e disse que devia ser um resfriado e que não era nada urgente. Mas nós conhecemos muito bem a Marie! Falei logo que ela já tinha comido corpo estranho duas vezes e que estava com medo de que fosse o terceiro. Ela resolveu dar uma olhada e assim que abriu a boca da gata disse: “tem alguma coisa lá dentro”. Danada essa Marie!
O caso virou uma emergência e a veterinária disse que como a Marie era uma fera seria preciso anestesiar para retirar o tal corpo estranho. Foi tudo bem rápido, mas confesso que fiquei nervosa quando a Maroca caiu anestesiada e tive que sair da sala para não estressar a veterinária. No final das contas, ela tinha comido uma etiqueta plástica dessas que fica presa nos fios para indicar a voltagem do equipamento. Só que ela engoliu o negócio inteiro e ficou entalada. Dá pra acreditar?!? A sorte é que nós estávamos em casa e agimos rápido!
Por precaução, fizemos ainda uma ultranossografia, mas felizmente não tinha mais nada. Foi só um susto. Agora estamos redobrando a atenção. Fica então o alerta: se o seu gato tem pica, todo o cuidado é pouco!