sábado, 7 de maio de 2011

A segunda desventura da Marie

Desde que eu criei esse blog, sabia que teria que escrever esse post. E tentei adiar ao máximo, porque a segunda desventura da Marie é um assunto sobre qual eu procuro não pensar. Procuro não pensar porque foi difícil demais na época e porque é difícil ainda pensar no futuro. E se escrevo agora é porque sei que é importante informar a todos aqueles que têm gatos sobre um assunto do qual eu não tinha nenhum conhecimento. E só consigo escrever nesse momento porque a Marie está aqui deitadinha no meu colo me mostrando que está tudo bem.
Partindo então para o relato que espero ser sucinto – até porque é difícil entrar em detalhes –, a segunda desventura da Marie começou como conseqüência da alergia que eu mencionei anteriormente. Quando não se consegue determinar a causa da alergia, o tratamento em geral recomendado é o uso de medicamentos à base de glicocorticóides, que têm ação imunossupressora. Marie tomou dois ciclos de corticóides e depois do segundo ciclo, começou a ficar quietinha, tristonha. Como na época ela estava usando o colar elisabethano para não se machucar com a coceira, achei que a tristeza era por isso. Mas passados alguns dias ela quase não comia e quase não saía do lugar. Para uma gatinha super ativa como a Marie aquilo não podia ser normal. Quando liguei para a veterinária e relatei os sintomas, ela me disse que para levar a Marie correndo para a clínica. Era aniversário do meu namorado. Ele foi trabalhar e eu fui sozinha para o veterinário com a gatinha.
Quando chegamos lá, só de olhar para a Marie a veterinária disse: “ela está anêmica”. Quando ela tirou uma amostra de sangue para analisar o hematócrito, o sangue saía tão lento que ela disse: “ela está muito anêmica”. Enquanto a amostra era processada, ela me perguntou se a Marie já tinha tido pulga e depois parou e perguntou se ela já tinha sido testada para FeLV. Como eu nunca tinha ouvido falar disso, disse que achava que não. Ela se sentou e me explicou então que havia 3 principais causas de anemia em gato. A primeira delas era hemorragia, que não era o caso da Maroca. A segunda era infecção por micoplasma (Mycoplasma haemofilis  ou Mycoplasma haemominutum), que é transmido principalmente por picada e pulga, e a terceira era FeLV.
A sigla FeLV vem do inglês (feline leukemia virus) e significa vírus da leucemia felina. Eu nunca tinha ouvido falar nesse vírus e prometo dedicar um post só sobre esse assunto, mas falando rapidamente, o vírus da leucemia felina é um vírus que causa imunodeficiência semelhante ao FIV (o HIV felino), com o agravante de poder gerar leucemia. Foi muita informação para assimilar em um intervalo de tempo tão pequeno, mas a veterinária me explicou que o vírus não tinha cura e que quando chegava na medula óssea podia causar anemia. Ela me sugeriu fazer o teste e disse que o resultado era bem rápido.
O teste para FeLV e FIV pode ser feito por ELISA ou por PCR. No primeiro caso é bem semelhante ao teste para gravidez (aparece um sinal de + ou – caso o gato seja positivo ou negativo para um ou para os dois vírus). É só pingar uma gotinha de sangue no kit e o resultado sai em cerca de 15 minutos. Fui para a sala de espera desesperada e tentando assimilar tudo aquilo. Fiquei sentada com a Marie dentro da caixinha no meu colo pedindo de todas as formas que eu podia pedir para que a minha gatinha tivesse uma infecção de micoplasma. Nunca vi isso. Ao invés de ter pedido e rezado para que ela não tivesse FeLV, pedi para ela ter uma infecção por micoplasma.
Depois daqueles 15 minutos que me pareceram 15 horas de angústia, fui chamada de volta à sala. Marie foi diagnosticada com o vírus da leucemia felina. Naquele momento eu não conseguia assimilar mais nada. Chorava compulsivamente enquanto a veterinária dizia que o hematócrito da Marie estava baixíssimo e que ela teria que receber uma transfusão de sangue. Disse ainda que se o vírus tivesse chegado à medula óssea não haveria mais nada a fazer senão “colocar fim ao sofrimento dela”. Foi demais para mim. Aquilo não podia estar acontecendo, não com a minha gatinha. E naquele desespero todo eu precisava arrumar sangue para ela porque a veterinária disse que a transfusão precisava ser feita naquele dia. Ou seja, eu tinha que arrumar um gato doador ou recorrer a um banco de sangue.
Nunca tinha pensado nisso, mas não é muito simples conseguir sangue para um gato. Fui para a casa levando a Marie e assim que cheguei liguei para o meu namorado e pedi: “volta”. Era aniversário dele e um dos piores dias da minha vida.

(continua no próximo post)

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